Há mais de 130 anos o Ceará assumia o pioneirismo no Brasil e libertava seus escravos, mais precisamente em 25 de março de 1884, quatro anos antes da Princesa Isabel assinar a Lei Áurea em 1888. Com a iniciativa, tornou-se a Terra da Luz, uma referência simbólica à claridade da liberdade dos negros escravizados, oriundos majoritariamente dos países africanos Congo e Angola. A iniciativa rende até hoje símbolos e homenagens que remetem à época, como o Centro Cultural Dragão do Mar, o Plenário 13 de Maio na Assembleia Legislativa, o Palácio da Abolição, dentre outras referências.
Até chegar a esse momento de libertação alguns fatos importantes ocorreram na província do Ceará e tiveram extrema ligação com o processo abolicionista. O principal deles foi o Movimento dos Jangadeiros, que teve início em janeiro de 1881, fechando o Porto de Fortaleza para o embarque de escravos. Outro fato ocorreu na Vila do Acarape – atual município de Redenção, em 1º de janeiro de 1883, quando 116 escravos daquela localidade foram emancipados. A cidade é conhecida como Rosal da Liberdade. O Movimento dos Jangadeiros foi encabeçado por Francisco José do Nascimento, conhecido também por Dragão do Mar ou Chico da Matilde, mulato natural de Canoa Quebrada e que havia se tornado prático da Capitania dos Portos. Nesta luta, ele teve ao seu lado a liderança de Antônio José Napoleão, ex-escravo que comprou sua alforria, da mulher, dos filhos e dos amigos, levando-os para morar nas dunas de Fortaleza, o que os fez se tornarem jangadeiros.
Primeira cidade a abolir a escravidão, Redenção guarda um pouco dessa história em forma de museu. Instalado na antiga fazenda da família Muniz Rodrigues, o Museu Senzala Negro Liberto foi inaugurado em 2003. No local, visitantes podem conhecer espaços ocupados no século XIX por senhores e escravos. O museu preserva ainda a casa grande da fazenda, senzala, documentos de compra de terra e livros de contabilidade escritos na época com caneta de pena pavão, moedas antigas e até objetos que eram utilizados para torturar os escravos. O piso da casa grande tem buracos que eram feitos para que os senhores ficassem sempre vendo o comportamento dos escravos na senzala, que acomodava de 50 a 60 escravos.
A comemoração da Data Magna cearense neste 25 de março é um momento importante para reflexão sobre os erros do passado e se o pós-escravidão de fato libertou os negros. Indicadores sociais e econômicos mostram que ainda há uma distância entre pessoas de cor no Brasil, colocando aqueles de pele mais escura predominantemente na parte baixa da pirâmide social do nosso país, sem falar na discriminação racial ainda presente em nossa sociedade.
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